quinta-feira, 13 de dezembro de 2012


 
O importante não são quantas pessoas telefonam pra você,
nem com quem você saiu ou está saindo. também não importa
que você nunca namorou. O importante não é quem você beijou.
Na vida, não é importante se você é aceito ou não pelos outros.
O importante na vida é quem você ama e quem você fere.
É como você se sente em relação a você mesmo. É confiança,
felicidade e compaixão. é ficar do lado dos amigos e trocar o ódio por amor.
O importante na vida é evitar a inveja, não querer o mal dos outros,
superar a ignorância e construir a confiança. é o que você diz, e
o significado de suas palavras. É gostar das pessoas pelo o que elas
são e não pelo que tem. Isso é importante.
— Caio Fernando Abreu
 
Em maio de 98, escrevi um texto em que afirmava que achava bonito o ritual do casamento a igreja,
com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos, mas que a única coisa que me desagradava era o sermão do padre.
“Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?”
Acho simplista e um pouco fora da realidade. Dou aqui novas sugestões de sermões:
- Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado,
lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?
- Promete saber ser amiga(o) e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso
lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?
- Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que
não chegaram a se concretizar?
- Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser
a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?
- Promete se deixar conhecer?
- Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?
- Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você,
e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?
- Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?
- Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá
responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?
- Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?
Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher: declaro-os maduros.
- Martha Medeiros.





 
Eu te amo. Mesmo negando. Mesmo deixando você ir.
Mesmo não te pedindo pra ficar. Mesmo não olhando mais nos teus olhos. Mesmo não ouvindo a tua voz. Mesmo não fazendo mais parte dos teus dias. Mesmo estando longe, eu te amo. E amo mesmo. Mesmo não sabendo amar.

- Caio Fernando Abreu

Carta


 
 
Não fique alarmada, minha senhora, ao receber esta carta, pela apreensão de que ela contenha a repetição daqueles sentimentos ou a renovação daquelas propostas que ontem à noite tanto a maçaram. Escrevo-lhe sem qualquer intenção de a aborrecer, ou de me humilhar, insistindo em exprimir esperanças de que, para a felicidade de ambos, não poderão ser esquecidas cedo de mais; e o esforço que esta carta poderá representar, para mim ao escrevê-la e para si ao lê-la, teria sido poupado, acaso o meu caráter não exigisse que ela fosse escrita e lida. Necessito, pois, que me perdoe à liberdade com que exijo a sua atenção; sei que os seus sentimentos me a concederão com relutância, mas não posso deixar de o fazer.
Duas foram às acusações que ontem à noite me fez, diferentes tanto na natureza como pela sua importância.
Acusou-me, primeiro, de ter separado o Sr. Bingley de sua irmã, indiferente aos sentimentos de ambos; e, segundo, de ter arruinado a possibilidade imediata e as probabilidades futuras do Sr. Wickham, desafiando abertamente quaisquer direitos, a própria honra e a humanidade. Ter repudiado voluntária e gratuitamente o companheiro da minha infância, o favorito declarado de meu pai, um rapaz que dependia exclusivamente da nossa proteção e a quem esta fora prometida, seria uma perversidade incomparavelmente mais grave do que a separação de duas pessoas cuja afeição, embora verdadeira, nunca poderia ter crescido excessivamente durante aquelas poucas semanas que estiveram juntas.
Espero, de futuro, estar salvaguardado da severidade das censuras que me foram feitas com tanta veemência sobre estes dois casos, após a leitura da seguinte explicação dos meus actos e seus motivos. Se nesta minha exposição me vir na iminência de exprimir sentimentos que apossam ofender, apenas me resta participar-lhe o meu sincero pesar.
A necessidade a isso me obriga - e quaisquer outras desculpas seriam absurdas. Pouco tempo depois da nossa chegada ao Hertfordshire, percebi, juntamente com outras pessoas, que Bingley preferia a sua irmã mais velha a qualquer outra rapariga na região. Porém, foi só por ocasião do baile em Netherfield que pela primeira vez receei que ele se apaixonasse seriamente. Já várias vezes o vira apaixonado. No baile, enquanto dançava com a menina, soube, através da informação acidental de Sir William, que as atenções de Bingley para com a sua irmã tinham dado azo a um rumor geral acerca do casamento de ambos. Sir William fez-lhe referência como a um acontecimento positivo, do qual só a data era incerta.
A partir desse momento dediquei toda a minha atenção à atitude do meu amigo; e reparei que a inclinação dele pela Menina Bennet era mais evidente do que qualquer uma das que lhe tinha visto anteriormente. Observei também a sua irmã. O olhar e as maneiras eram francos, alegres e atraentes como sempre, mas sem qualquer sintoma especial de afeição, o que definitivamente me convenceu de que, embora ela aceitasse as atenções de Bingley com prazer, não as provocava porque participasse do mesmo sentimento.
Aqui, se a menina não se enganou, enganei-me eu. O seu conhecimento íntimo de sua irmã tornará mais provável última hipótese. Nesse caso, se o meu erro me levou a inflingir um desgosto a sua irmã, o seu ressentimento não é injustificado. Porém, nada me impedirá de afirmar que a serenidade do rosto de sua irmã e a tranquilidade dos seus modos eram tais que trariam ao observador mais perspicaz a convicção de que, apesar de toda a amabilidade do seu temperamento, o coração não era dos mais fáceis de atingir.
E certo que desejava acreditar na indiferença dela, mas ouso afirmar que as minhas investigações e decisões não são geralmente influenciadas pelas minhas esperanças ou receios. Não foi porque o desejasse que acreditei na indiferença da sua irmã, mas, simplesmente, porque cheguei a esta convicção imparcial, e ela é tão sincera quanto o meu desejo. As minhas objeções contra tal casamento não foram apenas aquelas que ontem à noite lhe expus e que, no meu caso, exigiram toda a força da paixão para serem vencidas; a desigualdade social não representaria um mal tão grande para o meu amigo como para mim.
Mas existiam outras causas para a minha resistência; causas que, embora ainda existentes e idênticas para ambos os casos, eu tentei esquecer porque não diziam imediatamente respeito a mim. Tais causas necessitam ser mencionadas, embora sumariamente. A situação da família de sua mãe, se bem que pouco recomendável, nada era em comparação com aquela falta total de delicadeza tão frequente e quase permanentemente demonstrada por tal senhora, pelas suas três irmãs mais jovens e por vezes até pelo seu pai.
Perdoe-me. Custa-me ofendê-la. Contudo, qualquer que seja o aborrecimento que os seus parentes mais próximos lhe possam causar ou a tristeza que a presente descrição não deixará de lhe suscitar, espero que a seguinte reflexão lhe sirva de consolo: que o facto universalmente reconhecido de que tanto a menina como a sua irmã mais velha sempre se comportaram de modo a evitar uma censura semelhante é o melhor elogio que se poderá fazer à sensatez e ao carácter de ambas.
Acrescentarei apenas que tudo o que se passou naquela noite veio confirmar a minha opinião sobre todas as pessoas em questão e fortalecer a minha resolução de proteger o meu amigo de uma aliança que eu considerava altamente desastrosa. Ele deixou Netherfield no dia seguinte, como decerto está lembrada, com a intenção de regressar em breve. Devo agora explicar qual a minha interferência no caso. A inquietude das irmãs de Bingley fora igualmente despertada e logo descobrimos a coincidência dos nossos sentimentos a tal respeito; e, convencidos da urgência em afastar o irmão, decidimos acompanhá-lo a Londres.
Foi o que fizemos, e não perdi tempo em revelar ao meu amigo os inconvenientes da sua escolha. Descrevi-lhos e frisei-os com toda a gravidade. No entanto, por mais que esta advertência possa ter abalado a sua resolução, não creio que ela teria sido suficiente para impedir o casamento, se não tivesse sido apoiada pela afirmação, que não hesitei em fazer, de que a sua irmã lhe era indiferente. Ele acreditara até àquele momento que a Menina Jane correspondia sinceramente à sua afeição, senão com igual intensidade. Mas Bingley é por natureza muito modesto e comovedoramente dependente da minha opinião.
Convencê-lo, portanto, de que ele estava enganado, não foi tarefa difícil. Persuadi-lo de voltar ao Herfordshire, após ter firmado o primeiro ponto, foi coisa de um instante. Não me arrependo de o ter feito. Existe apenas uma parte da minha conduta que não me satisfaz inteiramente; pois condescendi em usar de certos artifícios para esconder de Bingley o fato de sua irmã se encontrar em Londres.
Sabia dessa presença, bem como a Menina Bingley, mas o irmão desta ainda agora o ignora. É, talvez, provável que eles se encontrassem sem outras consequências; mas o seu afeto não me pareceu suficientemente extinto para que ele pudesse ver sua irmã sem correr algum perigo. Talvez tal encobrimento, tal subterfúgio, seja indigno de mim. Contudo, é um fato consumado e assistido das melhores intenções. Sobre este assunto nada mais se me oferece dizer-lhe, nem outras explicações a dar-lhe.
Se acaso causei desgosto a sua irmã, foi sem saber que o fiz, e, embora os motivos que inspiraram a minha conduta lhe pareçam a si naturalmente insuficientes, não vejo ainda razões para condená-los. Quanto à outra acusação que me foi feita, a mais grave e a que diz respeito ao Sr. Wickham, só poderei refutá-la revelando-lhe a história da sua relação com a minha família. Ignoro se ele formulou alguma acusação particular à minha pessoa; mas acerca da verdade do que vou relatar poderei indicar-lhe mais de uma testemunha insuspeita.
O Sr. Wickham é filho de um homem muito respeitável, que durante vários anos geriu os bens da propriedade de Pemberley e cuja conduta irrepreensível no desempenho do seu cargo mereceu naturalmente a gratidão de meu pai, que se refletiu sobretudo em George Wickham, seu afilhado, para com o qual se mostrou de uma generosidade sem limites e lhe devotou grande afeição. Meu pai pagou-lhe os estudos num colégio e mais tarde em Cambridge, auxílio este deveras importante, pois o pai do Sr. Wickham, que as extravagancias da esposa privavam quase sempre do necessário, não estava em condições de dar ao filho uma educação liberal.
Meu pai não só apreciava a companhia de George Wickham, cujas maneiras, aliás, eram sempre muito cativantes, como tinha por ele a maior admiração e, alimentando a esperança de que o rapaz abraçasse a carreira eclesiástica, tencionava reservar-lhe um lugar na mesma. Quanto a mim, desde há muito tempo que me desiludira a respeito dele. As suas más inclinações, a falta de escrúpulos, que ele tinha o cuidado de esconder do seu melhor amigo, não poderiam passar despercebidas a um rapaz da sua idade, que o observava e tinha a oportunidade de o ver em momentos de descuido, coisa que ao Sr. Darcy era totalmente impossível.
De novo me vejo forçado a magoá-la - até que ponto, só a menina o poderá dizer. Mas quaisquer que sejam os sentimentos que o Sr. Wickham lhe possa ter inspirado, a suspeita que alimento acerca desses sentimentos não me impedirá de lhe revelar o verdadeiro caráter de tal pessoa, e apenas constituirá mais um motivo.
O meu excelente pai morreu há cerca de cinco anos e a sua afeição pelo Sr. Wickham manteve-se tão firme até ao fim que nas suas últimas vontades me recomendou que me encarregasse de velar pelo bem-estar do seu afilhado e, acaso ele sempre se ordenasse, providenciasse para que ele fosse ocupar um importante posto, mal este vagasse. Deixou-lhe também um legado de mil libras. O pai dele não sobreviveu muito tempo ao meu, e meio ano após estes acontecimentos recebi uma carta do Sr. Wickham em que ele me informava ter decidido não tomar ordens e me pedia o adiantamento da compensação pecuniária pelo lugar que ele nunca ocuparia.
Tencionava, acrescentava ele, dedicar-se ao estudo de Direito e esperava  que eu compreendesse que o rendimento das mil libras não bastariam para tal. Apesar do meu desejo em acreditar na sua sinceridade, não o consegui; mas, mesmo assim, mostrei-me favorável à sua proposta. Eu sabia que o Sr. Wickham nunca enveredaria pela carreira eclesiástica. O assunto foi em breve arrumado. Ele desistiu de toda a protecção relativa à sua entrada na Igreja, mesmo se algum dia estivesse em situação de recebê-la, e aceitou em troca a quantia de três mil libras.
A partir daí, nada tínhamos que dizer um ao outro. O que eu sabia a respeito dele era suficiente para não o desejar como amigo. Não o convidava para Pemberley, nem procurava a sua companhia na capital. Aí instalado, creio que praticamente sempre, a sua pretensão de estudar Direito não passou de um subterfúgio e achando-se nessa altura liberto de qualquer obrigação, entregou-se a uma vida de indolência e dissipação. Durante três anos poucas notícias tive dele; mas, quando faleceu a pessoa que ocupava o posto que lhe fora destinado, ele tornou a escrever-me, solicitando a sua apresentação para o dito lugar. A sua atual situação, dizia ele, e o que não me custou a acreditar, era bastante precária.
Descobrira que o estudo de Direito era pouco proveitoso e estava agora absolutamente resolvido a tomar ordens, acaso eu o apresentasse para o posto que acabara de vagar, coisa de que ele não duvidava, pois estava informado de que não havia outro pretendente e confiava que eu tivesse presente as intenções do meu venerando pai; creio que não me censurará por lhe ter recusado tal pretensão e rejeitado todas as suas tentativas no mesmo sentido.
O seu ressentimento foi proporcional à situação desesperada em que se encontrava - e mostrou-se, sem dúvida, tão violento no ataque que à minha pessoa fez na opinião dos outros como nas recriminações que me dirigiu. Após esse período, todas as relações de mera formalidade foram cortadas. Como ele viveu não sei. Mas no Verão passado tornou a atravessar-se no meu caminho, e da forma mais repugnante. Devo agora mencionar certas circunstâncias que eu mesmo desejaria esquecer e que apenas uma obrigação tão forte como a atual me levam a revelá-las a alguém. Depois de ter dito isto, confio inteiramente na sua discrição.
A minha irmã, dez anos mais jovem do que eu, foi deixada em tutela ao sobrinho da minha mãe, o coronel Fitzwilliam, e a mim próprio. Há cerca de um ano, ela saiu do colégio e foi morar para Londres, na companhia de uma senhora encarregada de superintender na sua educação. No  Verão passado, ela e essa senhora foram para Ramsgate. O Sr. Wickham, obedecendo sem dúvida a um plano, partiu para o mesmo lugar; descobriu-se depois que houvera um entendimento prévio entre ele e a Sr.a Younge, sobre cujo carácter nos enganámos desgraçadamente.
Com o auxílio e a conivência de tal pessoa, George Wickham conseguiu captar de tal modo às boas graças de Georgiana, cujo coração extremamente afetivo conservava ainda viva a impressão da bondade com que ele a tratara em criança, que ela se convenceu de que o amava realmente e consentiu em ser raptada. Ela tinha então apenas quinze anos, o que lhe servirá de desculpa; e, após ter constatado a sua imprudência, tenho o consolo de poder acrescentar que soube disto por ela própria.
Cheguei a Ramsgate, inesperadamente, um ou dois dias antes da projectada fuga, e Georgiana, incapaz de suportar a ideia de desgostar e ofender um irmão que ela considerava quase como um pai, confessou-me tudo. Pode bem imaginar como me senti e como agi. A fim de não prejudicar a reputação da minha irmã e não ofender os seus sentimentos, abstive-me de qualquer acto de represália em público; mas escrevi ao Sr. Wickham, que partiu imediatamente.
Quanto à Sr.a Younge, não hesitei em despedi-la. O principal objectivo do Sr. Wickham era, sem dúvida, apoderar-se da fortuna de minha irmã, que é de trinta mil libras; mas não posso deixar de pensar que o desejo de se vingar de mim tenha também influído fortemente nele. A sua vingança seria, de fato, completa.
Esta é, minha senhora, a narrativa fiel dos acontecimentos que nos dizem respeito a ambos; e, se não a rejeitar como absolutamente falsa, espero que me sirva de atenuante para a crueldade com que agi contra o Sr. Wickham. Não sei de que modo, nem as falsidades de que ele usou para a atrair à sua causa; mas o êxito por ele alcançado não é de estranhar.
Dada a sua ignorância total dos fatos e das personagens, não só não estava em seu poder desmascarar essas falsidades, como, além de tudo, o seu temperamento não é dado à desconfiança. Talvez se surpreenda por eu não lhe ter contado tudo isto ontem à noite, mas naquele momento não tinha suficiente domínio sobre mim mesmo para decidir o que devia e o que não devia revelar.
Quanto à verdade de tudo o que aqui ficou relatado, posso apelar particularmente para o testemunho do coronel Fitzwilliam, que, dado o nosso parentesco e constante intimidade, e sobretudo a sua qualidade de executor testamentário de meu pai, foi posto necessariamente a par de todos os detalhes concernentes a esses acontecimentos. Se acaso a antipatia que por mim nutre a impedir de dar o devido valor às minhas asserções, o mesmo não acontecerá em relação ao meu primo, e, para que haja a possibilidade de consultá-lo, procurarei entregar-lhe esta carta logo de manhã. Acrescentarei apenas, Deus a abençoe! - Fitzwilliam Darcy.
 
(Trecho do livro: Orgulho e Preconceito.)

Carta de Alex para Rosie

Rosie,
Estou voltando para Boston amanhã,  mas  antes  de  ir  gostaria escrever  esta  carta.  Todos os pensamentos e  sentimentos  que  têm  estado borbulhando dentro de mim estão finalmente transbordando desta caneta e deixo  esta  carta  para  que  não  se  sinta  como  se  a  estivesse  pressionando.
           Compreendo que    precisar  de  tempo  para  se  decidir  a  respeito  do  que estou prestes a dizer.
Cei  o  que  está  acontecendo,  Rosie.  Você é minha melhor amiga posso ver a tristeza em seus olhos. Cei que Greg não está fora trabalhando no  fim  de  semana.  Você  nunca  conseguiu  mentir  para  mim  sempre  foi horrível nisto. Seus olhos a traem de tempos em tempos. Não finja que tudo está  perfeito,  porque vejo que  não  está.  Vejo  que  Greg é  um  homem egoísta, que não faz absolutamente idéia da sorte que tem, e isto me deixa doente.
Ele é o homem mais afortunado do mundo por tê-la, Rosie, mas não a merece e você merece muito mais. Você merece alguém que a ame a cada batida  de  seu  coração,  alguém  que  pense  a  seu  respeito  a  cada  instante, alguém  que  passe  cada  minuto  do  dia  apenas  se  perguntando  o  que  você está  fazendo,  onde  está,  com  quem  está  e  se  está  bem.  Precisa  de  alguém que  possa  ajudá-la  a  alcançar  seus  sonhos  e  protegê-la  de  seus  medos.
Alguém  que    tratá-la  com  respeito,  que  ame  cada  lado  seu, especialmente suas falhas. Você deveria estar com alguém que possa fazê-la  feliz,  realmente  feliz, flutuando de  felicidade.  Alguém  que  deveria  ter aproveitado  a  chance  de  estar  com  você  anos  atrás,  em  vez  de  ter  se assustado e se amedrontado demais para tentar.
Não estou mais assustado, Rosie. Não tenho mais medo de tentar Cei o que foi aquele  sentimento  em  seu casamento foi ciúme. Meu coração se partiu  quando  vi  a  mulher  que  amo  se  afastando  de mim  para  percorrer  a nave com outro homem, um homem com quem ela planejava passar o resto da vida. Foi como uma sentença de prisão — anos se estendendo diante de mim  sem  que  eu  fosse  capaz  de  lhe  dizer  como  me  sinto,  ou  abraçá-la  ou falar o quanto a desejava.
Por duas vezes  estivemos um ao  lado do  outro no altar, Rosie Duas vezes. Duas  vezes  o  fizemos  da  maneira  errada.  Eu  precisava  que  você estivesse presente no dia do meu casamento, mas fui estúpido demais para ver que precisava que você fosse a razão do dia do meu casamento.
Eu nunca deveria ter deixado que seus lábios se afastassem dos meus anos  atrás  em  Boston.  Numa  deveria  ter  me  afastado.  Nunca  deveria  ter entrado  em pânico. Nunca deveria ter passado  todos  esses anos sem  você.
Dê-me uma chance de compensá-los. Amo você, Rosie, e quero estar com você e Katie e Josh, Para sempre.
Por favor, pense  a  respeito.  Não  perca  seu  tempo  com  Greg.  Esta é nossa oportunidade.  Vamos parar de ter  medo  e  agarrara  chance.  Prometo que a farei feliz.
Com todo o meu amor, Alex.
 
(Trecho do livro: Onde terminam os arco-íris.)

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Dia dos ex-namorados


Dia de quem juntou e separou, cansou e depois sentiu falta, planejou mas desistiu, deu de graça e ninguém riu, tentou e não conseguiu, compartilhou e não recebeu, começou sério mas terminou em caixa alta, brigou com quem mais amava, amou e depois odiou, odiou e amou só depois que acabou, brincava de não querer e só fez sofrer, juntos pela data e separados pelo esquecimento, ex-namorado é para sempre. para sempre ex, às vezes atual e raramente um ninguém.
Tempo nunca é pouco em relacionamento, não é? Tempo com gente que queremos roubar, apostar em uma síndrome de Estocolmo, torcer uma devoção divina. Que o outro nos instaurasse como deus e fosse eternamente grato por amar. E seríamos bons. Seríamos bons e retornaríamos o amor na mesma medida. Ex-namorados que quisemos as roupas, as calças, até aquela camiseta furada. Comentários sobre filmes que não vimos, e que não pretendemos ver. E que vamos falar sobre as suas viagens a Amsterdã. Aprender a dançar. Pisar no pé apenas para fazer rir.
Ex-namorados para quem se possa dizer: “o que quer que você esteja vendendo, eu compro”. Eu compro o compromisso. Aceita-se qualquer contrato. Sentar em parques e não me incomodar com mordidas de formigas. Vê-los espantá-las sem nos deixar matá-las. Brigar só para ver aquela veia que salta do rosto quando está brabo. Ex-namorados que se pode ao lado mesmo quando você não tiver nada a dizer. Dar seu espaço e respeitá-lo. Alguém que se pode esperar ligar, antes que eu ligue, e dizer que te amo quando você o fizer. Poder dizer isso primeiro, antes que ele diga.
Ex-namorados que não queriam posse, queriam parceria. Relacionamentos estroçados, empilhados, apoiados uns sob os outros. Terrenos baldios de projetos futuros transformados em abrigos nucleares. Palácios de areia derrubados.  Eu, ditador de mim, não vou cansar de extorquir meu próprio território, meus incômodos ódios,  para reconhecer o valor de um ex-namorado. Um brinde aos príncipes decapitados. Perde-se a cabeça, mas nunca o coração.
(Felipe Luno)

sábado, 15 de setembro de 2012

Johnny Depp


O QUE É AMOR?


         Amor é quando você fala para um garoto “que linda camisa ele está vestindo” e aí ele a veste todo dia. 
-Noelle, 7 anos.
Amor é quando você sai para comer e oferece suas batatinhas fritas, sem esperar que a outra pessoa te ofereça as batatinhas dela. 
-Chrissy, 6 anos.
Amor é quando alguém te magoa, e você mesmo muito magoado não grita porque sabe que isso fere seus sentimentos. 
-Samantha, 6 anos.
Amor é quando seu cachorro lambe sua cara, mesmo depois que você deixa ele sozinho o dia inteiro. 
-Mary Ann, 4 anos.
Amor é quando minha mãe faz café para o meu pai e toma um gole antes para ter certeza que está do gosto dele. 
-Danny, 6 anos.
Amor foi quando minha avó pegou artrite, e ela não podia se debruçar para pintar as unhas dos dedos do pé. Meu avô desde então, pinta as unhas para ela. 
-Rebecca, 8 anos.
O amor não é quando o seu amor corre de você no pega-pega, e sim quando ele te da a mão e chama para correr com ele. 
-Mary, 6 anos.

Caio F. Abreu



“Se você tivesse chegado antes, eu não teria notado. Se demorasse um pouco mais, eu não teria esperado. Você anda acertando muita coisa, mesmo sem perceber. Você tem me ganhado nos detalhes e aposto que nem desconfia. Mas já que você chegou no momento certo, vou te pedir que fique. Mesmo que o futuro seja de incertezas, mesmo que não haja nada duradouro prescrito pra gente. Esse é um pedido egoísta, porque na verdade eu sei que se nada der realmente certo, vou ficar sem chão. Mas por outro lado, posso te fazer feliz também. É um risco. Eu pulo, se você me der a mão.”

Texto


"O rouge virou blush. O pó-de-arroz virou pó-compacto. O brilho virou gloss. O rímel virou máscara incolor. A Lycra virou stretch. Anabela virou plataforma. O corpete virou porta-seios. Que virou sutiã. Que virou silicone. A peruca virou aplique… interlace… megahair… alongamento. A escova virou chapinha. ‘Problemas de moça’ viraram TPM. Confete virou MMs. A crise de nervos virou estresse. A purpurina virou gliter. A tanga virou fio dental. E o fio dental virou anti-séptico bucal. Ninguém mais vê: O à-la-carte porque virou self-service. A tristeza agora é depressão. O espaguete virou miojo pronto. A paquera virou pegação. A gafieira virou dança de salão. O que era praça virou shopping. A areia virou ringue. O LP virou CD. A fita de vídeo é DVD. O CD já é MP3. É um filho onde eram seis. O álbum de fotos agora é mostrado por e-mail. O namoro agora é virtual. A cantada virou torpedo. E do ‘não’ não se tem medo. O break virou street. O samba, pagode. O carnaval de rua virou Sapucaí. O folclore brasileiro, halloween. O piano agora é teclado, também. O forró de sanfona ficou eletrônico. Fortificante não é mais Biotônico. Polícia e ladrão virou Counter Strike. Fauna e flora a desaparecer. Lobato virou Paulo Coelho. Caetano virou um pentelho. Elis ressuscitou em Maria Rita. Raul e Renato. Cássia e Cazuza. Lennon e Elvis. A AIDS virou gripe. A bala antes encontrada agora é perdida. A violência está maldita. A maconha é calmante. O professor é agora o facilitador. As lições já não importam mais. A guerra superou a paz. E a sociedade ficou incapaz. De tudo. Inclusive de notar essas diferenças."

Luís Fernando Verissímo.

Texto


"O rouge virou blush. O pó-de-arroz virou pó-compacto. O brilho virou gloss. O rímel virou máscara incolor. A Lycra virou stretch. Anabela virou plataforma. O corpete virou porta-seios. Que virou sutiã. Que virou silicone. A peruca virou aplique… interlace… megahair… alongamento. A escova virou chapinha. ‘Problemas de moça’ viraram TPM. Confete virou MMs. A crise de nervos virou estresse. A purpurina virou gliter. A tanga virou fio dental. E o fio dental virou anti-séptico bucal. Ninguém mais vê: O à-la-carte porque virou self-service. A tristeza agora é depressão. O espaguete virou miojo pronto. A paquera virou pegação. A gafieira virou dança de salão. O que era praça virou shopping. A areia virou ringue. O LP virou CD. A fita de vídeo é DVD. O CD já é MP3. É um filho onde eram seis. O álbum de fotos agora é mostrado por e-mail. O namoro agora é virtual. A cantada virou torpedo. E do ‘não’ não se tem medo. O break virou street. O samba, pagode. O carnaval de rua virou Sapucaí. O folclore brasileiro, halloween. O piano agora é teclado, também. O forró de sanfona ficou eletrônico. Fortificante não é mais Biotônico. Polícia e ladrão virou Counter Strike. Fauna e flora a desaparecer. Lobato virou Paulo Coelho. Caetano virou um pentelho. Elis ressuscitou em Maria Rita. Raul e Renato. Cássia e Cazuza. Lennon e Elvis. A AIDS virou gripe. A bala antes encontrada agora é perdida. A violência está maldita. A maconha é calmante. O professor é agora o facilitador. As lições já não importam mais. A guerra superou a paz. E a sociedade ficou incapaz. De tudo. Inclusive de notar essas diferenças."

Luís Fernando Verissímo.

Um Dia


Martha Medeiros

Dentro da igreja, ajoelhe-se. No estádio de futebol, grite pelo seu time. Numa festa, comemore. Durante um beijo, apaixone-se. De frente para o mar, dispa-se. Reencontrou um amigo, escute-o. Ou faça de outro jeito, se preferir: dentro da igreja, escute-o. Durante um beijo, dispa-se. No estádio de futebol, apaixone-se. De frente para o mar, ajoelhe-se. Numa festa, grite pelo seu time. Reencontrou um amigo, comemore. Esteja, entregue-se.